sábado, 7 de fevereiro de 2015

Resenha 18# Ladrões ou frutos de uma sociedade excludente?

Capitães da Areia, do Jorge Amado foi minha primeira leitura de 2015, era um livro que queria ler já há algum tempo e não me decepcionou.
A linguagem do Jorge Amado é muito fluida, você lê 50 páginas em uma sentada, a história é muito envolvente.
É uma história romanceada, mas o fato é real. Os capitães da areia eram crianças abandonadas (seja órfãos ou frutos de famílias mal estruturadas), que acabaram se encontrando e formando o grupo “os capitães da areia”, era aproximadamente 100 crianças, sendo que 40 delas moravam num trapiche na beira do mar.
Conta a história que Jorge Amado passou semanas dormindo junto com esses meninos para contar sua história.


“Vestidos de farrapos, sujos, esfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente”

Os capitães da areia tem entre 9 e 16 anos e ler o que essas “crianças” faziam para sobreviver, é muito triste.
Eles sobrevivem roubando, furtando, dentre outros tipos de golpes.
E ai você entra num questionamento, eles são mero ladrões ou frutos de uma sociedade excludente?
O que eles podiam fazer da vida? O leitor poderia dizer que eles deveriam ir para orfanatos ou reformatórios, mas, Jorge Amado faz questão de nos mostrar também como era essa realidade: lugares horríveis, em que não havia comida suficiente, recebendo castigos corporais severos, assim preferiam estar nas ruas.
São vários personagens e é muito interessante como o autor consegue mostrar a realidade de todos eles e como cada um tem a sua forma de expressar o que sentia, assim como seus desfechos: alguns muito felizes, outros muito trágicos.

“Todos procuravam um carinho, qualquer coisa fora daquela vida, o Professor naqueles livros que ele lia a noite toda, o Gato na cama de uma mulher da vida que lhe dava dinheiro, o Pirulito na oração que o transfigurava, Brandão e Almiro no amor na areia do cais, o Sem Pernas sentia que uma angustia o consumia e não conseguia dormir”.

Vai falar sobre outros nichos de pobreza na Bahia, nas docas e nos morros e como eles sobreviviam.

O que mais me espantou é saber que foi baseado em historia real e que crianças de nove anos fumam, bebem, estupram e roubam para sobreviver... Mas pra sobreviver? Será que era necessária tanta violência? Pra onde caminha essa sociedade?
Foi um livro muito bacana, gostei demais e quero ler mais Jorge Amado.

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